Pescar é enfrentar saudáveis desafios, é fazer amizades, é conhecer novos lugares e abrir novos horizontes. É conviver com a natureza. É ser companheiro.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A última pescaria do João


06,30H no Lumiar. O Zé Lopes e o Valdemar chegaram à minha casa com aqueles sorrisos que perspectivavam “o dia” especial que nós sempre imaginamos e que podem mesmo acontecer.

Na A5, em direcção à marina de Cascais, parámos no snack das bombas para aconchegar os estômagos (não foram as morcelas mas no meu caso… francesinhas) e beber um cafézinho. Era o 25 de Abril e àquela hora encontrámos dezenas de polícias de trânsito concentrados ali para fiscalizar o dia feriado, talvez no Palácio de Belém, ali perto. 

Já na marina, o amigo Sousa Rego apareceu e juntámo-nos então todos ao mestre António Lemos para iniciarmos a viagem. Ao passarmos o cabo Raso fizemos o rumo para um dos meus pesqueiros preferidos, já que o tempo, sem vento e o mar com ondas de 2 metros, ajudavam a manter uma velocidade constante, pelo que chegámos rapidamente ao pesqueiro.

Uso, normalmente, prontinhas a pescar, 2 canas, uma à chumbadinha com 2 anzóis de 3 ou 4/0 na ponta e 5/0 a correr num aparelho único (tamanho 12 a 15 cm já com o destorcedor) e chumbadinha de 50 a 80 gr. para sardinha inteira - a outra com um aparelho também feito por mim, de 3 anzóis com 4 ou 5/0 em baixo, 2/0 no meio e um pequeno em cima - este anzol pequeno só (quase) me serve para sentir a actividade existente lá em baixo sendo que muitas das vezes nem isco lhe ponho. Como se deduz, não estou a pescar ao peixe miúdo embora este até caia bastas vezes. 

Durante a manhã o pessoal foi pescando sargos, fanecas e carapaus tendo também eu acabado por apanhar uma boa choupa, um besugo, uma abrótea e um sargo. 

A seguir fomos presenteados com a visão de uma vintena de roazes o que foi mais uma achega ao espectáculo do dia. O Valdemar apanhou a seguir um polvo muito bom e finalmente o Sousa Rego “amandou-se” com o belo vermelhinho (que vemos na foto) e que só de o pensar comigo sentado à mesa é de lamber os lábios.


Estava com a chumbadinha e foi então que eu dei o meu habitual grito de guerra “TEM PAI QU’É CEGOOOOOOOOOOOO….”. Era um predador dos azuis, esperei que o António Lemos me desse o animal para a foto da praxe e no fim foi como sempre fazemos, libertado em perfeitas condições e desapareceu num ápice.



Lanço de novo a chumbadinha e quase de imediato nova luta e novo grito de guerra. Desta vez era um belo Pagrus Pagrus que de tão bonito me fez prolongar o grito a ficar sem voz. Aqui está ele. Se em vez de pargo fosse mulher eu diria “é mesmo linda de morrer….”.


Por volta das 2 horas o vento levantou-se e por precaução rumámos a terra e parámos na Guia, local bem abrigado, com 15 a 20 metros de fundo, mas que só dá mesmo para passar o tempo o que não foi este o caso. O amigo Valdemar para contrariar pesca-me esta preciosidade. É um “CENTROLOPHUS NIGER” o seu nome comum é Liro-preto ou apenas Liro em Cabo Verde, tinha aproximadamente 35 cm e pesaria 500 gr. Não haverá registos seus de aparecimento na zona de Cascais e muito menos tão perto da costa. É um animal de profundidade, com habitat normal de entre os 300 e 700 mts. Os juvenis (adultos chegam a atingir 1,5mts.) procuram águas menos profundas tendo sido já localizados a 40 metros (mas não por cá) enquanto os adultos já foram detectados a 1050 mts. de profundidade. Pena ter morrido, é um acontecimento realmente raro para relembrar.


E desta fico-me por aqui.
Abraços

João

Texto e fotos: João Arietti

1 comentário:

Cabé disse...

Boas e grandes pescarias essas do João Arietti & Companhia!!! é sempre um gosto ouvir estes relatos. Abraço