Pescar é enfrentar saudáveis desafios, é fazer amizades, é conhecer novos lugares e abrir novos horizontes. É conviver com a natureza. É ser companheiro.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Conhecer o sargo !

Ao longo da nossa vida de pescadores, vamos criando um nível de exigência diferente, à medida que vamos aprendendo e melhorando, seja através dos outros, ou até de nós próprios, através das experiências pessoais. Se quando comecei a pescar em miúdo, até me contentava com um bodião e fazia uma festa quando apanhava um boga, quando finalmente descobri as simpáticas safias comecei a dedicar-me a elas. Ao longo dos anos, as perfomances foram melhorando, até que apanhar safias se tornou muito fácil, e, por isso, pouco aliciante. Os grandes sargos de que ouvia falar e cheguei a ver apanhar continuavam a não aparecer... porquê? Bem, por vezes apareciam... mas para cada 5 safias, aparecia um sargo, e muito raramente com tamanhos acima da barreira psicológica do meio quilo. Pois bem, este Verão decidi tirar isso a limpo. Apanhar 20 ou 30 safias a rondar as 250 gsr já me dizia pouco. E assim, no passado Verão fiz boas pescarias de Sargos, dias em os sargos foram bem mais que as safias, algo que antes era impensável…e sargos a rondar o quilo começaram a aparecer... como? O que mudei na minha forma de pescar? Qual o segredo para passar de uma caldeirada de safias para um boa teca de sargos com algumas safias à mistura?

Em primeiro lugar, compreendi finalmente como o sargo se comporta... os seu locais preferidos. Anteriormente limitava-me muito a poças fundas, muitas vezes ricas em safias. Os sargos também lá vão, mas nesses locais as safias estão sempre em muito maior quantidade; ao contrário da safia, o sargo não é esquisito em relação à profundidade - apanhei sargos grandes em locais com meio metro de água, locais que ficavam praticamente a seco quando a onda recuava, e enchiam depois novamente. Ou seja, o sargo aproveita a força da enchente para arrancar o marisco (mexilhões, perceves, etc) e vão depois no recuo das águas. Vi apanhar peixe numa poça assim! Lajes de pedra compridas que só ficam submersas na maré cheia, os sargos adoram se lá tiverem comida. Vi rochas deste tipo completamente roídas pelos sargos! Como se vê, muitas vezes os sargos aparecem nos locais mais inesperados - um pequeno buraco é a melhor aposta, mesmo que ao lado esteja um fundão com mais de 3 metros! As escolhas fazem toda a diferença, eles podem estar mesmo ali e nem darmos por eles...

Em segundo lugar, o isco. O camarão, é um bom isco e bastante versátil. Capaz de chamar bons sargos, sem dúvida, mas o que é certo é que quando comecei a apanhar mexilhão e usá-lo como isco, o nível de capturas de qualidade aumentou de forma notória! Mexilhão, carangueijo são os iscos mais naturais que se pode dar ao sargo. A tiagem também dá muito bons resultados, e a sardinha é muito boa para se apanharem sargos grandes, mas só quando estão a pegar nela, pois há períodos em que nem lhe tocam!
Tenho a impressão de que os sargos mais pequenos gostam mais do camarão!

Tiagem: numa praia da zona de Aljezur, uma zona rochosa com muita alga verde e gretas com alguma areia, suficiente para haver ali muita tiagem, pesquei por lá durante 3/4 dias seguidos, na enchente, pois os sargos ali se juntavam... e só pegavam na tiagem. Aqueles que capturámos tinham a barriga verde das algas que engoliam para abocanharem a tiagem fixa às mesmas.

Já a bicha da pedra, é um isco extraordinário para safias - ficam completamente malucas.

Relativamente ao estado do mar, nunca notei haver um padrão bem definido, pois já capturei sargos e também já gradei com diversos tipos de mar.

Sei que não pode estar muito manso (inferior a 1m). Se estiver muito mexido (a partir de 3/4 m), as melhores opções, na minha opinião, são os recantos mais protegidos, onde a corrente provocada pelas levadias seja menos forte. Sem ter ainda qualquer explicação para o facto, nunca me dei muito bem em dias de nortada, normalmente pródigos em picadas de peixe miúdo e pouco mais...

Está mais que provado que não são necessários lançamentos de 100m para se capturarem bons Sargos. Gostam de se alimentar junto às rochas, refugiando-se em pequenos buracos, muitas vezes tão pequenos que ninguém imaginaria estar ali um sargo, como também gostam dum fundo rochoso, entre a praia e um banco de areia.

A minha técnica? A chumbadinha, que considero muito eficaz, pois permite explorar os tais buracos pequenos que podem esconder uma boa surpresa!


Jorge Ponte

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